Quem é filho único se acostuma cedo a ser a única chance, a desempenhar conforme o esperado.O vulgo diz que o filho único é um felizardo. Mal sabe o vulgo que vivemos no inferno de ser o centro da familia.O filho único acha que o carro que dispara o alarme no meio da noite é sempre o dele.Isso é uma angústia.Filhos únicos sabem que a preferencial é de quem está na rotatória. Tomam buzinadas, broncas e batidas.Filhos únicos não fazem xixi fora da privada, pq não é isso que esperam dele.Algumas janelas são alternativas de outras vidas que não a dele, outros sonhos, que nunca vão poder ser os sonhos dele. Mas não somos assim para sempre. O mundo se encarrega de nos dar irmãos que nos tirem brinquedos, puxem nosso cabelo e ralem nosso joelho, que nos dá broncas por nos acharmos culpados pelo tssuname.Irmãos que entendem que o filho unico com o estigma social de ser mimado, carrega em cima de sí a responsabilidade de vidas que não são suas.Irmãos que sabem que o filho único com o estigma de não dividir nada, divide muito mais que bens materiais, atenção ou brinquedos..divide a própria vida.E eu, como filha única encontrei esses irmãos que não apenas passam a mão pela minha cabeça num consolo, não apenas enxugam minhas lágrimas ou riem dos meus enganos..mais que dividem comigo a minha solidão, o meu peso e os meus erros.
(Ci)
